terça-feira, 13 de maio de 2008

Explosão de dados

Informação à rodo, por André Machado
Estudo diz que dados no universo digital vão explodir em três anos. enquanto isso, a internet avança a passos largos no Brasil
Se o leitor imaginar que um byte seria equivalente a um átomo no universo digital dos computadores e da internet, seria possível dizer que o número de "átomos" digitais no universo cyber já ultrapassou o de estrelas do universo real. E esse número só faz se expandir. Quem arrisca essa comparação são os analistas da consultoria IDC, num estudo que aponta uma nova hiperexplosão digital para os próximos anos. Segundo o estudo, o universo digital comporta hoje, em informações, 281 exabytes, ou 281 bilhões de gigabytes - 10% além das expectativas mais gordas - e, dentro de três anos, esse número vai quase decuplicar.
E o que nós, brasileiros, temos a ver com isso? Muita coisa, ora. É que, quase ao mesmo tempo em que foi liberado o relatório, o CETIC.br - Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação - divulgou um estudo mostrando avanços no uso de computadores pessoais e da internet no Brasil. E pelo menos uma das razões da explosão de dados digitais supracitada é o aumento do acesso ao ciberespaço nos países emergentes.
O relatório do CETIC.br, que analisa como o brasileiro anda mexendo na grande , em casa ou alhures, aponta para uma mudança do perfil social do país nos últimos dois anos. Embora o uso da internet em residências se mantenha no nível dos 40%, ela está chegando às classes menos favorecidas através de lugares como cibercafés e LAN houses, que prolifeream cada vez mais no país.
Entrar na internet nesses locais - LAN houses, cibercafés e telecentros - é a grande pedida para 49% dos ouvidos na pesquisa do CETIC.br (foram estudadas 114 mil residências em várias cidades e entrevistadas 17 mil pessoas). Em 2006, esse número era bem menor.
- A LAN house é um lugar onde o acesso é mais barato, custa em média R$ 1 por hora, e por isso se tornou muito procurada - diz Mariana Balboni, gerente do CETIC.br. - Além disso, trata-se de um lugar onde não há restrições de acesso, ao contrário de um telecentro ou escola, onde não se pode navegar em certos websites.
Outro indicador interessante é o aumento de computadores pessoais nos lares. Quase um quarto (24%) dos lares brasileiros já tem um computador. É claro que não dá para competir com a televisão, presente em 98% das casas, o rádio (89%) e o celular (74%, passando de longe os 45% de telefones fixos), mas já é alguma coisa.
Fronteiras enre classes estão em transição
Agora, se os 24% de PCs em casa são o número geral, ele cresce para 40% se focamos nas residências da turma que recebe entre três e cinco salários mínimos. Mariana aponta como possíveis causas a melhora da conjuntura econômica, a baixa dos preços dos equipamentos e programas como o Computador para Todos do governo federal.
Esse aumento se deve também a um momento de transição das classes sociais. Nesses 40% estão aqueles que antes ganhavam menos de três salários e agora estão num novo patamar.
Por isso, o avanço dos PCs e da web tem esse viés social. Afinal, explica Mariana, entre as classes mais altas, quem tem computador hoje já tinha antes, e isso não mudou muito. Agora começa, devagar, a chegar a vez da classe média e da classe média baixa.
E também dos jovens. Mais da metade da população brasileira a partir dos 10 anos de idade - mais precisamente, 53% - disse já ter usado um computador. Esse número sobe se nos centramos na faixa dos 10 a 15 anos (80% já usaram um compuador, nesse caso) e na de 16 a 24 anos (82% já botaram a mão no PC).
A banda larga também cresceu. Suas modalidades já aparecem em 50% das casas (25% via modem ADSL), embora o acesso discado ainda seja usado por 42% dos usuários.
- Ela cresceu dez pontos percentuais desde 2006 - diz Mariana. - Houve aumento na qualidade do acesso à rede.
E pra que é usada a internet? Comunicação (89%), entretenimento (88%), e procura de informações (87%). Na comunicação, 78% enviam e recebem e-mails, 55% usam programas de mensagens instantâneas e 64% curtem as redes sociais como o Orkut. No lazer, os grandes favoritos são: ler jornais e revistas on-line (47%), jogar ou baixar jogos (43%), ver vídeos (43%), ouvir rádio ou ver TV na web (36%) e baixar filmes, músicas e programas (33%). E, na busca por informações, a pedida é correr atrás de dados sobre diversão (55%) e saber mais sobre bens e serviços (49%), saúde (32%), empregos (30%) e viagens (23%).
Mas ainda há muitos fora do mundo digital. A maioria deles (55%) diz que lhes falta habilidade para isso.
- Isso demonstra que, embora sejam válidas as políticas do governo de inclusão digital através do fomento da compra do primeiro PC, ainda falta investir em educação e capacitação, em conteúdo - diz Mariana.
E o acesso sem fio é ainda bem incipiente: apenas 5% usam o celular para acessar a internet. Em compensação, 51% já enviam SMS.
Explosão de dados virá da sombra digital
Estudo diz que cada ação do usuário no universo digital é ampliável dezenas de vezes
O estudo da IDC que prevê a explosão dos dados no universo digital daqui a três anos (pelo jeito, é 2011 o ano em que faremos contato, nã o2010, como previu o saudoso Arthur C. clarke) explica o fenômeno da "sombra" que projetamos no mundo dos bits e bytes. Cada ato nosso que gera informação - redação de um texto, a gravação de uma música, o envio de um e-mail, um telefonema em VoIP - tem impacto muito maior de podemos imaginar.
- Começa assim: vivo tirando fotos com minha câmera digital de 12 megapixels e fui enchendo cartões de 32 gigabytes de capacidade - conta Hermann Pais, diretor da EMC (ela encomendou o estudo) para a área petrolífera da América Latina. - Com isso, logo preenchi meu HD de 250Gb. Logo precisei comprar outro disco rígido, externo, de mais 250Gb. E agora estou com um novo disco interno de 500Gb que já está pela metade.
De 1 Mb para 50Mb sem fazer força
Essa sombra digital só faz crescer, e entre as razões principais estão, além do maior acesso à web em países emergentes, o crescimento das redes de relacionamento ciberespaço adentro, o aumento da interatividade com a televisão e a chegada da TV digital, mais sensores e câmeras por todos os lugares, gerando dados e necessitando de mais programas, e as "nuvens" de rede proliferando por todo o lado.
Um bom exemplo citado no estudo é a bola de neve em que potencialmente se transforma o envio de um simples e-mail. Digamos que ele saia da caixa postal original com um anexo de um megabyte e seja encaminhado a cinco destinatários. Ora, então não há apenas 1Mb envolvido, mas... 6Mb. Se fosse simples assim...
Em primeiro lugar há o documento original armazenado no PC de onde veio. Depois o e-mail com o documento anexado. Agora imagine que o e-mail foi enviado sob uma infra-estrutura que mantenha cópias de todas as mensagens num servidor central. Essa infra-estrutura teria, além disso, um servidor redundante com mais uma cópia da mensagem. Mais: nesse ambiente de rede, os arquivos dos desktops onde ficam os documentos originais são copiados todos os dias, por segurança para um servidor. Esses servidores também teriam cópias de segurança em fita. Ou seja, já estamos falando de mais oito vezes o megabyte original da mensagem. Se os destinatários tiverem estruturas similares em seu ambiente de e-mail esse número sobe para 30 vezes.
Adicionem -se os arquivos temporários da transmissão para lá e para cá dos dados e uma mensagem com anexo de 1Mb acaba virando um bolo com mais de 50Mb.
- E são as empresas que precisam gerenciar isso tudo- explica Hermann. _ Nesse sentido o estudo é um alerta.
Já há um bilhão de câmeras digitais e telefones com câmeras no mundo. Em 2011, os recipientes de dados digitais no mundo chegarão a 20 quatrilhões. E alguns zettabytes (1 zettabyte é equivalente a 1.000.000.000.000.000.000.000 bytes) nos esperam.

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